Empresas iniciam campanhas pró-vacina, de olho na recuperação dos negócios

Empresas iniciam campanhas pró-vacina, de olho na recuperação dos negócios

Preocupada com condução do plano pelo governo, associação de restaurantes lança mobilização com chefs famosos, como Alex Atala, do DOM. Outros setores planejam ações

Setores econômicos diretamente afetados pela pandemia saíram na frente e resolveram iniciar campanhas próprias de incentivo à vacinação em massa. Empresas e associações de restaurantes, hotéis, construção civil e comércio se movimentam para reforçar a confiabilidade nos imunizantes aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e para estimular a adesão do público em geral à vacinação.

Os empresários relatam preocupação com a atitude do governo, com questionamentos do presidente à eficácia da vacina, e dizem que ela é fator crucial para a retomada de seus negócios, além de uma questão social.

Uma das primeiras a tomar iniciativa formal foi a Abrasel, associação de bares e restaurantes, que lançou a campanha “Vacina: eu confio”.

Ela abrange vídeos e cartazes com cerca de mil personalidades em todo o país como chefes de cozinha, empresários e personalidades com declarações de estímulo à vacinação.

Há peças com o chef Alex Atala e com o proprietário da rede de restaurantes Paris 6 e o presidente da Ambev, Jean Jereissati, também deve participar.

Restaurantes e redes afiliadas são estimuladas a postarem as peças em suas redes sociais. O setor tem cerca de 1 milhão de estabelecimentos.

— O setor precisa superar essa crise econômica e de saúde pública. A vacina é a solução definitiva. Há pessoas que têm dúvidas ou estão mal informadas ou mal conduzidas por visões ideológicas que distorcem a realidade — afirma Paulo Solmucci, presidente da entidade.

Ele diz temer o aumento da resistência ao imunizante:

— Tem a visão do presidente no sentido contrário (que questiona a eficácia), corremos um risco quando nos posicionamos. Mas vale a pena porque é dever social, não podemos nos omitir.

A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ) tem duas campanhas engatilhadas para esclarecer dúvidas e conscientizar quem trabalha no setor sobre a importância da vacina para a própria saúde e para a retomada da economia. A ideia é usar redes sociais e influenciadores.

— Pretendemos fazer uma campanha voltada para hóspedes em geral e outra focada em nossa rede de hospedagem e terceirizados, para falar da importância que a vacinação traz para a normalidade do convívio e para a economia voltar a circular — afirma Alfredo Lopes, presidente da associação.

Efeito cascata na economia

O Sistema Fecomércio RJ está criando uma campanha para seus cinco mil colaboradores no Estado do Rio, que deve ser veiculada nas redes sociais entre fevereiro e março, a depender do calendário de vacinação.

— As vacinas servem como gatilho para o otimismo com dias mais próximos da normalidade. Há demandas represadas, investimentos congelados, planos adiados que podem, enfim, voltar a ganhar fôlego. Isso vale tanto para aberturas de capital na Bolsa e para o pequeno comerciante, que tinha planos de expansão e, óbvio, preferiu não arriscar em 2020 — afirma o presidente da entidade, Antonio Florencio de Queiroz Junior.

O coordenador da Sondagem do Comércio do IBRE-FGV, Rodolpho Tobler, destaca que a vacinação em massa é fundamental para aquecer setores como o serviço e o comércio.

Segundo ele, é um efeito cascata, pois, com mais pessoas imunizadas, aumenta a circulação e o consumo, o que impacta desde a produção na indústria ao mercado de trabalho, que passa a demandar mais mão de obra.

— O destravamento da economia acontecerá à medida que o número de casos diminuir e as pessoas se sentirem seguras para sair de casa. As empresas e os governos locais estão com o papel de ajudar na conscientização dos funcionários e da população. O empresariado acaba assumindo este lugar porque erradicar o vírus afeta a saúde do trabalhador e a própria empresa.

No setor da construção civil, um grupo de 21 entidades divulgou nesta semana um manifesto em que critica a falta de diálogo entre os Poderes.

“Precisamos da urgente imunização coletiva contra a Covid-19, com todos os tipos necessários de vacinas, para tranquilizar a população e acelerar a retomada econômica”, diz o documento.

Políticas de estado

“Os Poderes devem estar voltados à política de Estado e não de governo, orientados para o que é de inegável interesse público e não meramente corporativo ou político”, afirma o manifesto, que defende a manutenção do teto de gastos, privatizações e concessões de ativos à iniciativa privada.

Algumas entidades que assinam o documento pretendem fazer suas próprias campanhas. É o caso da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e do Sindicato da Habitação (Secovi-SP).

— É um sinal do empresariado de preocupação com a condução dos processos nas áreas política, econômica e na saúde pública — diz Carlos Eduardo Lima Jorge, vice-presidente da CBIC.

Ele continua:

— A gente quer vacinação em massa, do maior número de pessoas e no menor prazo possível. Vamos fazer campanha para romper com a politização lamentável da vacina e da pandemia, que tem como efeito o negacionismo.

No Secovi-SP, a campanha deve se iniciar nos próximos dias, segundo o presidente da entidade, Basílio Jafet:

— Queremos estimular não apenas associados, mas o público em geral a a participar da vacinação, falando de responsabilidade coletiva.

Setor de máquinas: sem vacina, sem retomada

A Abimaq, que representa a indústria de máquinas, pensa em fazer campanhas no futuro, segundo o presidente da associação, José Velloso:

— Sem vacinação em massa, o mundo e o Brasil não se recuperam. Quando a vacina estiver disponível e chegar a hora do brasileiro sem comorbidade, pretendemos fazer peças de estímulo à vacinação.

A empresa de aluguel de equipamentos de TI para escritórios, Simpress, está presente em vários estados, com mais de 1.800 funcionários, e já iniciou uma campanha explicando a importância da vacina através de um vídeo, o qual foi enviado pelos canais de comunicação interna.

O diretor de marketing, Paulo Theophilo, conta que serão feitos outros vídeos e manuais daqui para frente sobre o assunto.

— No primeiro vídeo, ressaltamos os pontos positivos de cuidar do coletivo, e não apenas de si, e que quanto mais tempo demorar para todos serem vacinados, mais tempo levará para voltarmos ao normal. Quanto mais demorar a vacina, pior, porque ela não aquece o mercado no ponto adequado.

Já a empresa de laminados e reciclagem de alumínio Novelis Inc. está em uma campanha mundial com seus mais de 15 mil funcionários em nove países.

No Brasil, será realizada no próximo dia 4 uma transmissão ao vivo com médicos da empresa e profissionais da saúde para repassar informações essenciais sobre a vacina e para o esclarecimento de dúvidas dos colaboradores. Também, estão reforçando o tema entre a liderança.

Fonte: CACB